Continua após publicidade

A reforma deste apartamento seguiu práticas sustentáveis

Desde a escolha dos materiais até o descarte dos resíduos – prova de é possível ser ambientalmente correto e ainda conquistar um lindo lar

Por Texto: Daniel John Furuno | Reportagem Visual: Juliana Corvacho | Fotos: Luis Gomes
Atualizado em 10 set 2021, 00h24 - Publicado em 30 ago 2016, 12h54

De certo modo, a semente deste projeto foi plantada há mais de 20 anos. Realizada no Rio de Janeiro, a Eco-92, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, teve profundo impacto na vida da então estudante gaúcha Claudia Porto, que acompanhou o fórum ecológico promovido pela ONU para fazer um trabalho escolar. “Fiquei sensibilizada pelo tema e escolhi a biologia como profissão”, diz ela, que hoje atua na Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo. Natural, portanto, que a sustentabilidade, questão vital em sua rotina profissional, tivesse igual importância na hora de renovar o apartamento. “O maior desafio de adotar esse conceito em uma obra é obter as informações necessárias. E são poucos os arquitetos que entendem sobre o assunto ou se dispõem a aprender”, aponta ela, que encontrou na equipe do escritório Iná Arquitetura os parceiros ideais para a empreitada.

Por aqui, menos é mais

• Cinco palavras resumem a política sustentável – são os chamados 5 Rs: repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar. “Repensamos nossas reais necessidades e recusamos muitos supérfluos. Reduzimos a quantidade de material – por exemplo, não azulejamos toda a cozinha, somente a área molhada. Reutilizamos muita coisa, como as portas de um guarda-roupa, que viraram o armário da área de serviço. Por fim, sempre que possível, escolhemos produtos reciclados ou que possam vir a ser um dia”, enumera Claudia.

• Aproveitar objetos antigos também é prática recomendável, que ainda oferece ganhos estéticos. “Itens com memória afetiva ajudam a contar a história dos moradores no espaço. Para que não destoem, devem ser considerados desde a concepção do projeto”, diz o arquiteto Marcos Mendes. Assim, entraram em cena peças como o armário de madeira de demolição e o velho moedor. “Para compor com o móvel e a parede de lousa que a Claudia queria, usamos acabamento branco na marcenaria”, explica o arquiteto Júlio Beraldo.

Continua após a publicidade

Lixo e luz com consciência

• “A fim de não gerar tantos resíduos, demolimos apenas o estritamente necessário”, afirma Claudia, acrescentando que tudo o que estava em bom estado foi doado – louças, metais, portas e prateleiras, entre outros –, e o restante, levado a um ecoponto, posto de entrega de entulho e materiais recicláveis (confira a lista de endereços na capital paulista).

• Um dos poucos quebra-quebras foi a integração de cozinha e sala. “Além de ampliar o espaço, a medida trouxe mais ventilação e iluminação natural”, observa Marcos. Uma das consequências disso é a possibilidade de redução no consumo de energia elétrica, questão ambiental importante.

• Um trio de pendentes em alturas diferentes fornece luz extra no jantar. “Elegemos um modelo que é releitura daquelas luminárias de mecânico, pois queríamos um toque industrial”, explica Júlio. Gostou da ideia do conjunto de pendentes? Então veja nossas sugestões aqui. 

Continua após a publicidade

• A moradora desejava cimento queimado no piso, mas sem abrir mão de praticidade na hora da faxina. Assim, optou-se por porcelanato imitando concreto.

Simplicidade faz diferença

• O parquet pode parecer original do imóvel, mas é outra solução ecológica do projeto. “Garimpamos os tacos de peroba-rosa em caçambas e também na internet, e então os restauramos e instalamos”, conta Marcos. O resultado? Beleza e economia. “Custou 20% do valor de um piso novo de madeira”, comemora Claudia.

• Os tacos, em conjunto com o móvel branco, conjugando painel de TV, rack e estante, reforçam o visual simples e neutro que os arquitetos buscaram. As cores entram em detalhes, como a porta de entrada que reproduz um dos cenários da série de TV norte-americana Friends. “Foi um dos primeiros pedidos da moradora, mais um item de memória afetiva”, conta Júlio.

Continua após a publicidade

• Também atrai o olhar a viga tingida de cinza. “Quando fomos derrubar a divisória entre sala e cozinha, encontramos esse elemento estrutural, e decidimos assumi-lo em vez de camuflá-lo”, explica Marcos.

• A opção pelos pendentes tipo régua se deu em virtude do pé-direito baixo, que inviabilizava o rebaixamento do forro para embutir a iluminação.

Pontuais e eficazes

Continua após a publicidade

• Embora a integração de cozinha (1) e sala de estar (2) tenha ampliado o espaço, os cômodos se mantiveram setorizados graças à decisão de instalar pisos diferentes em cada um.

• Para converter o dormitório principal em suíte, a entrada de um dos banheiros foi transferida do corredor (3) para o quarto (4).

Para admirar e se engajar

• “O corredor não precisa ser apenas área de circulação. Pode ser uma galeria de arte – por isso, instalamos uma canaleta para expor quadros e gravuras”, observa Júlio.

Continua após a publicidade

• A cabeceira de ripas no quarto também tem motivação ambiental. “São de madeira cumaru com selo de reflorestamento”, diz Marcos. Em nome da unidade visual, o banheiro segue a mesma paleta da sala e da cozinha.

• O branco entra na tinta das paredes e nas pastilhas ecológicas, feitas de material reciclado, dentro do boxe; o cinza, no porcelanato do piso e no concreto do tampo da pia e do acabamento do nicho.

Embora já fosse especialista no assunto, Claudia aprendeu um bocado durante o processo. “A construção civil produz 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades humanas, além de ser o setor que mais consome recursos naturais”, afirma a bióloga, que recomenda uma cartilha do Ministério do Meio Ambiente como fonte de informação sobre o tema (para baixá-la, basta acessar bit.ly/obras-sustentaveis).

Publicidade